Apesar da pandemia, GD solar cresce em 2020 impulsionada pelo agro
18/12/2020 - 08:10h
Imaem: CreativeNature_nl, de envatoelements
A geração distribuída solar fotovoltaica teve forte crescimento mesmo em ano de pandemia. O aumento na tarifa de energia elétrica e a maior disponibilidade de linhas de crédito impulsionaram a demanda por sistemas solares, com destaque para o agronegócio, que teve uma alta de 120% só no primeiro semestre de 2020, acumulando 488,5 MW em geração.
Embora os dados de 2020 ainda não estejam consolidados, o setor estima um crescimento acima de 50% de geração solar este ano.
Dados da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) apontam que, este ano, a geração distribuída no Brasil ultrapassou a centralizada. Até outubro, a capacidade solar no país tinha 7 GW, sendo mais de 4 GW de geração distribuída.
Segundo o diretor de marketing e sustentabilidade da BYD Brasil, Adalberto Maluf, em 2020, houve uma consolidação na oferta de linhas especiais de financiamento, principalmente de bancos privados.
"Mesmo com a crise, vimos um aumento de 40% nas vendas. O que mais cresceu este ano foi o segmento do agronegócio, em especial no Centro-Oeste. O agro tem linhas muito boas para financiamento de projetos, que faz com que o setor tenha disponibilidade de capital mais do que outros", explica Maluf.
O agro é o terceiro setor que mais utiliza energia solar fotovoltaica (13%) no Brasil, atrás dos consumidores residenciais e do setor de comércio e serviços (76%). A indústria responde por 9% e poder público 1%. Todos os setores estão sendo pressionados pelo aumento de custos da conta de energia elétrica, que ficou mais cara este ano.
"Em um momento de queda de receita, eles (os setores) olham a energia solar como alternativa para estabilizar os custos no curto prazo", disse Maluf, estimando que o crescimento da Byd em 2021 será de 100%, equivalente a 400MW.
O uso deste tipo de energia deve seguir em expansão.
O Plano Decenal de Energia 2030, em consulta pública no Ministério de Minas e Energia, estima que, até 2030, a micro e minigeração distribuída (MMGD) deve contribuir com 4,6% e 3,2% da carga total de energia, nos cenários Verão e Primavera, respectivamente.
No cenário Verão, o Brasil opta em manter uma política de grande incentivo para a MMGD, fazendo mudanças sutis na regulação, e chega a 2030 com 24,5 GW de capacidade instalada e geração de 4,3 GWméd.
No Primavera, há remoção dos incentivos tarifários, mas o investimento continua atrativo, e a projeção é que a capacidade instalada alcance 16,8 GW e a geração 2,9 GWméd.
Ainda de acordo com as projeções do PDE, a energia solar fotovoltaica deve representar 93% da capacidade instalada e responder por 79% da energia gerada de MMGD em 2030, no cenário verão.
Fintechs aproximam investidores e projetos de pequeno porte
Além dos bancos tradicionais, a GD também vem chamando a atenção de quem quer investir por meio das fintechs. Um exemplo é a Bloxs Investimentos, plataforma que aproxima investidores individuais de projetos alternativos, como usinas solares de pequeno porte.
Recentemente, a fintech captou cerca de R$ 2 milhões para construção e operação de três a cinco usinas fotovoltaicas (UFV´s) da Sunfor Energia, no Rio de Janeiro, em telhados arrendados com capacidade de até 98,04kWp de potência cada.
Neste modelo de negócio, os investidores são sócios do ativo e o rendimento -- estimado em 16% ao ano -- vem com o aluguel dos equipamentos para que outras empresas utilizem a energia gerada, pagando uma fração menor do que pagariam a uma concessionária, explica o CEO da Bloxs, Felipe Souto.
"Há também uma geração de fluxo de caixa constante. Uma vez instalada, não há nenhum tipo de risco operacional atrelado. Neste contexto, temos um aumento muito grande na procura deste tipo de ativo como investimento. Neste ano, mesmo com a covid, fizemos bastante projetos, em hotéis, laboratórios. Em 2021, esperamos fazer 10 MW", conta Souto.
Mudança de perfil
A queda nos preços dos equipamentos e instalação para o consumidor final é outro fator que vem impulsionando a busca por sistemas fotovoltaicos nas residências.
Mesmo com a alta desvalorização do real frente ao dólar, de 30% nos últimos 12 meses, que encareceu a importação da maior parte dos insumos de placas solares, o preço manteve a tendência de queda observada nos últimos anos.
Na comparação de junho deste ano com o mesmo período de 2019, houve uma redução de quase 5% no preço médio do kit de instalação.
Para o diretor comercial da Renovigi, Antonio Federico, há uma mudança na percepção dos clientes residenciais, que respondem por 70% dos negócios da empresa.
"Muitas pessoas achavam que energia solar era para pessoas ricas. As pessoas estão começando a entender que é um negócio simples, que caiu o preço, e que não é só classe A e B que compra", acredita Federico.
Um levantamento feito pela consultoria Greener, sobre o desempenho da geração distribuída nos primeiros seis meses de 2020, mostra que o perfil do cliente solar é cada vez mais jovem e que há uma ampliação da participação das classes C e D.
"Nos últimos anos, vem caindo o preço dos sistemas de maneira geral, oferta de linhas de financiamento com taxas interessantes. Associado a isso, o custo de energia elétrica é alto e há risco de apagão para o ano que vem", explica o diretor da Renovigi.
A capacidade de GD solar havia batido recorde nos três primeiros meses do ano, quando cresceu 25%, saltando de 2 mil MW, no início de janeiro, para 2,5 mil MW no fim de março. Com a chegada da pandemia, tudo mudou e o segmento chegou a registar queda de até 90% entre abril e julho, quando começou a dar sinais de melhora.
"Em agosto tivemos uma recuperação que explodiu. Em setembro tivemos o triplo de pedidos de janeiro. Vamos crescer 50% em relação ao ano passado, mas em 2021 esperamos crescer 140%, a demanda está altíssima. Temos ainda uma estratégia para sermos mais agressivos no agronegócio", concluiu Federico.
fonte: Udop, com informações da Epbr (escrita por Nayara Machado)