Cases de alta produtividade revelam como obter cana de 3 dígitos
17/08/2020 - 08:13h
Imagem: estivillml, de envatoelements
Usinas e fornecedores que produzem cana-de-açúcar desejem ter como resultado a cana de 3 dígitos. Ao passo que para isso é preciso aumentar a produtividade por hectare acima de 100 toneladas sem crescer em área. O que é um grande desafio. Aqueles que têm se destacado, geralmente, são os que investem em tecnologias e ferramentas. De modo que munidos desses subsídios conseguem suprir as necessidades fisiológicas do canavial no momento certo e com a quantidade necessária. Mas existem outros processos e tecnologias envolvidos no trato cultural daqueles que alcançam sucesso. Nisso, chegamos a seguinte questão: o que é preciso para obter a tão sonhada produtividade de três dígitos? Quatro especialistas de usinas de cana com cases de alta produtividade agrícola comprovados respondem. Confira.
É preciso um bom programa de manejo da cana
Antes de tudo, o produtor rural e diretor presidente da Canacampo, Daine Frangiosi afirma que não existe uma tecnologia exclusiva que garanta a alta produtividade do canavial. Ao contrário, só se pode chegar à cana de 3 dígitos através de um “arroz com feijão”, ou seja, uma série de ações e tecnologias em conjunto.
De acordo com ele um manejo pensado para obter alta produtividade é o que precede os tão sonhados 3 dígitos. Para justificar ele oferece como exemplo seu cultivo e dos associados da Canacampo. A entidade agrega atualmente 62 mil hectares de cana-de-açúcar produzidas e fornecidas para processamento na Usina Coruripe, de Campo Florido (MG). Os associados possuem um manejo que é considerado destaque em todo o Brasil.
Produtor sugere atenção à correção e adubação
“Minha lavoura de cana possui uma área total de 4.400 hectares, com idade média de 4,7 cortes. Nesta safra 2020/21 até dia 12 de agosto alcancei os seguintes números: TCH de 126,93; ATR de 136,5 e TAH de 17,32”, define Frangiosi. Ele atribui inicialmente os bons números ao alinhamento de trabalho com ao Programa de melhoramento genético, de onde pode escolher a variedade mais adequada ao seu solo.
Entretanto, ele chama uma vez mais a atenção para a estratégia do manejo. Destaca a correção e adubação como um ponto de atenção, chegando ao planejamento de plantio. Nesse quesito ele elenca quatro pontos importantes dentro do programa de manejo. São eles: a brotação; o perfilhamento; processo vegetativo e a maturação. Sendo que é nesse último ponto que está um dos segredos de sua alta produtividade.
“Notei que no momento em que o processo de maturação começa o uso de maturador estava roubando produtividade. Logo, decidi substituir o uso de maturador por duas linhas de pré-maturadores”, explica Frangiosi. O resultado foi o acrescido de 25, 16 TCH a mais que a média da região e um ATR maior que 2kg.
É preciso pessoas comprometidas com o processo e resilientes às mudanças
Gomes, da Usina Guaíra: o manejo começa com um plantio sem falhas
Com uma área total cultivada de 36.500 hectares de cana-de-açúcar a Usina Guaíra pretende superar nesta safra sua média histórica de 93,8 t/ha. O diretor agrícola Gustavo Villa Gomes informa que a produtividade da safra até o momento é de 101,70 t/ha. Além disso, o ATR acumulado é de 141 ,36 t/ha. “Isso com um canavial de idade média de 4,3 anos. “São número interessantes que mostram porque nosso canavial é longevo levando em consideração nosso volume diário”, justifica Gomes.
Contudo, o segredo para obter cana de 3 dígitos da Usina Guaíra está inicialmente no manejo nutricional e fitossanitário. “O princípio de nosso manejo começa com um plantio sem falhas”, define o diretor agrícola da usina. Mas ele destaca ainda outras aéreas. Dentre elas, o Corte, Transbordo e Transporte (CTT) e a Gestão Agrícola.
Dentre os destaques da busca pela alta produtividade no canavial, Gomes ressalta a importância das pessoas nesse processo. “Precisamos de gente comprometida com o processo e resilientes às mudanças”, destaca o diretor agrícola. Igualmente, além das pessoas, ele inclui no processo de gestão outros três elementos: planejamento; tecnologias e softwares e controle de custo.
Assim também, o case da Usina Guaíra — que é uma referencia de alta produtividade agrícola há vários anos – nesta safra deve contar com um total de Toneladas de Açúcar por Hectare (TAH) da ordem de 14,4.
Alta produtividade do canavial depende de inovação tecnológica
Hermes Arantes, diretor agricola da Bevap, ao receber o Prêmio MasterCana 2018 em Produtividade de Colhedoras
Um bom benchmarking sobre alta produtividade do canavial está em João Pinheiro – MG. Trata-se da Bevap Bioenergia. A usina de cana opera colheita 100% mecanizada, assim como o plantio 100% feito por máquinas. A cana é 100% irrigada. Parte da operação bem-sucedida e que redunda em uma cana de 3 dígitos passa pelo fato de que a usina consegue manter alta produtividade apesar da longevidade do canavial.
Ao passo que nessa safra os índices de Tonelada de Cana por Hectare (TCH) estão em torno de 108, tendo em vista um canavial com longevidade acima de cinco cortes. Quem oferece os dados é Hermes Augusto Guimarães Arantes, diretor agrícola da Bevap. Nesse ínterim, o gestor conta que dado déficit hídrico da região seria impossível produzir cana sem irrigação. Nesse quesito a usina é um dos melhores exemplos do País, com 17 áreas de captação e cinco sistemas diferentes de irrigação.
Mas é a inovação tecnológica a cereja do bolo da alta produtividade da usina. Conforme Arantes, ela começa a partir de um centro de treinamentos de qualificação de mão de obra com o uso de ferramentas de análises e soluções de problemas. Dentre elas o Kaizen, um sistema de busca por melhoria contínua merece destaque. Mas a inovação tecnológica se contra principal no sistema de gerenciamento de irrigação. “Ele monitora e orienta cada irrigação de nosso canavial – de cana própria, vale dizer – apontando os índices de forma online”, destaca.
O sistema permite obter em tempo real as informações da operação, tais como: quando irrigar e quantos milímetros aplicar de acordo com a capacidade de retenção da água no solo. Há também outros sistemas utilizados que tem feito diferença. Entre eles está o de avaliação de qualidade da área cultivada através da aviação agrícola. Além disso, há também tecnologia de automação aplicada ao CTT, acompanhamento da evolução e outros que redundam em um canavial de 3 dígitos.
Manutenção do potencial produtivo da lavoura é fundamental
Luiz Fernando Almeida, o cérebro do planejamento agrícola da Cerradinho Bio
Primeiramente, Luiz Fernando Almeida, supervisor de Planejamento e Controle Agrícola, da Cerradinho Bio, informa que a alta produtividade agrícola da usina é crescente. “Nas ultimas oito safras elevamos nossos índices de moagem e estabilidade do TAH, com produtividade média de 104,8 TCH e ATR de 131,5”, informa.
Ao passo que o resultado é fruto, dentre outras premissas, da manutenção do potencial produtivo da lavoura.Almeida explica que esse processo contempla manter o Stand elevado, a cana limpa, eliminação de pragas e uma planta bem nutrida.
De acordo com ele é preciso uma boa visão sobre qual é o portfólio de terras e o ambiente disponível para trabalhar ao longo do tempo. Além disso, qual será a proporção de volume de cana em cada corte. “A partir disso adotamos as estratégias específicas para cada ano. Fazendo com que cada ambiente e cada corte tenha seu máximo potencial produtivo”, explica Almeida. Nesse sentido, ele elenca três premissas importantes: potencial produtivo no primeiro corte; estabilidade de produtividade dos cortes ao longo do tempo e um bom mix nutricional.
fonte: JornalCana, escrita por Alessandro Reis