´Lições para o futuro´
11/08/2020 - 08:13h
Imagem: BrianAJackson, de envatoelements
Na segunda-feira passada aconteceu o 19º Congresso da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), com o tema "Lições para o Futuro".
Foi um ótimo congresso, três painéis com palestrantes e debatedores altamente qualificados; e a primeira lição foi o evento em si mesmo: teve 8.100 inscritos. Porque isso foi uma lição? Ora, já se sabe que a trágica pandemia que varre o planeta inteiro apressou a incorporação de inovações tecnológicas que iam acontecer mais devagar, e uma delas é a conectividade. Nunca antes tivemos um encontro com tão expressivo número de participantes. Claro que o fato das inscrições serem gratuitas concorreu para isso, mas teve gente do Brasil inteiro, o que não aconteceria se fosse presencial. E ainda mais: houve muitos estudantes, principalmente de ciências agrárias e economia, de faculdades de todas as regiões. E essa é uma importante lição também: a juventude brasileira está "ligada" no agro, o que representa mais uma vantagem comparativa desse setor em relação a outros países produtores de alimentos, energia e fibras. Precisamos estimular essa turma, até porque ela está muito mais articulada com TI do que as gerações anteriores. Juventude e conectividade são a primeira lição. Aliás, em um dos painéis foi anunciada a possibilidade de qualquer produtor rural fazer seguro pelo celular agora: nesse caso, o futuro chegou para valer!
Outra lição que permeou todo o evento foi a mensagem inicial, dada pela ministra Tereza Cristina, da Agricultura: o Brasil tem todas as condições para ser o campeão mundial tanto agrícola quanto ambiental. Boa parte dos debates foi dedicada a ampliar a ligação entre essas duas "taças". E a própria Abag deu um exemplo concreto disso: ela foi a primeira entidade representativa do agronegócio a neutralizar todas as suas emissões de gases de efeito estufa relativos a 2019 através da aquisição de 55 CBios, os créditos de descarbonização criados pelo RenovaBio, a Política Nacional de Biocombustíveis. Cada um desses créditos foi "comprado" pelo valor de R$ 22, e equivale a uma tonelada de emissão de carbono evitada, isto é, essa emissão foi substituída pelo uso de combustíveis renováveis. O número é pequeno porque corresponde apenas a atividades dos funcionários e associados da Abag relativos a suas viagens. Mas é um exemplo maravilhoso para ser ampliado e usado no futuro por entidades e também empresas do agro e afins.
Depois de quatro horas de intenso debate olhando para as perspectivas do Brasil na geopolítica global (considerando seu papel na segurança alimentar e energética, e inclusive como financiar isso) algumas conclusões ficaram implícitas ou foram explicitadas no encerramento do Congresso, entre as quais está a necessidade de cultivar e atrair nossa juventude para o agronegócio, um esforço concentrado para que nossos jovens fiquem no Brasil e não abandonem jamais nosso País ao trocá-lo por outros destinos. O "futuro não interessa aos mortos", e precisamos construí-lo com e para essa brava juventude.
E a principal lição que ficou do congresso da Abag foi mesmo: o nosso grande desafio para o futuro é compatibilizar a garantia de segurança alimentar (e do alimento) para o mundo todo, com a sustentabilidade dos processos produtivos; é fortalecer a ponte entre ambos que já estamos construindo há décadas com o trabalho dos produtores rurais. E o "material de construção" que estamos usando é uma poderosa mistura de tecnologia tropical gerada no país, com o engajamento corajoso e determinado dos agropecuaristas de todos os rincões nacionais, e com políticas públicas adequadas para apoiar a atividade rural. E aí ficou o exemplo do seguro, dos novos mecanismos de crédito, da organização dos produtores em suas cooperativas, associações e sindicatos, além da importância da infraestrutura, da diplomacia de resultados em acordos comerciais, da modernização das legislações que estimulem o desenvolvimento do setor. Também foi destacada a necessidade de combater erros graves cometidos por minorias insignificantes e que perturbam nossa boa imagem, como invasão e grilagem de terras, desmatamentos ilegais e incêndios criminosos.
Os mercados esperam que continuemos com essa construção cujos resultados são admirados por quem conhece o setor, e que os comuniquemos melhor para quem ainda não tem o privilégio de conhecer.
*Texto originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 09/08/2020
fonte: Udop, com informações de O Estado de S.Paulo (escrita por Roberto Rodrigues)