Mercado de finanças verde vai ajudar agronegócio, diz ministra
24/06/2020 - 08:13h
Imagem: Banco de Imagens
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou hoje que o destravamento do mercado de finanças verdes para a agropecuária brasileira vai ajudar o país a manter a vegetação nativa preservada "sem derrubar uma árvore sequer". Ela participou do lançamento do Plano de Investimento para a Agricultura Sustentável, desenvolvido pelo governo brasileiro em parceria com a Climate Bonds Initiative (CBI), principal certificadora dessa área no mundo.
O objetivo é desenvolver a emissão de títulos atrelados a conservação e adoção de boas prática ambientais no país.
O potencial de investimentos para agricultura sustentável no Brasil até 2030 é de US$ 692 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura. Ainda tímido, o mercado movimentou US$ 5,81 bilhões desde 2015 no país.
A MP do Agro, transformada na Lei 13.986, deve ser um item determinante para desburocratizar e alavancar a emissão desses títulos, explicou a ministra.
"A intensificação de produção de comida no Brasil é uma forma de otimizar o uso global de recursos naturais, sem derrubar uma árvore sequer", afirmou durante transmissão ao vivo nesta terça-feira. "Esse movimento vai permitir manter intacta a vegetação nativa, algo nem de perto praticado por muita gente no mundo. As finanças verdes são forte indutor de conservação", pontuou.
Tereza Cristina destacou os números da preservação ambiental pelos produtores brasileiros, como a ocupação de 8% do território com lavouras e a intensificação da pecuária, com diminuição da área destinada às pastagens. Ela também mencionou as tecnologias de conservação do solo e o programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), desenvolvidos pela Embrapa. "Temos que sair para a realidade. Soube de um grupo de pecuária de corte que fez uma grande emissão de títulos verdes. Queremos que isso seja massificado, pelo tamanho do agro brasileiro. O pontapé foi dado com a MP do Agro e o setor tem todo interesse de atrair esse capital e mostrar imagem da agricultura brasileira lá fora", disse a ministra.
Sylvia Coutinho, presidente do grupo UBS, maior gestor patrimonial do mundo, disse que os investidores mudaram os critérios para definir as aplicações, focando as decisões na correlação de sustentabilidade com risco e retorno. Durante a pandemia, enquanto diversas áreas perderam recursos, as finanças verdes registraram incremento de US$ 46 bilhões, disse ela. "O Brasil pode ser líder global [no mercado de finanças verdes], pois tem os maiores ativos ambientais do planeta e o agronegócio mais competitivo do planeta. Podemos ser líderes e inovar nessa área", explicou.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, ressaltou o programa de ferrovias do governo vai ser integralmente certificado com títulos verdes, o que pode atrair novos investidores. "Atuação forte de descarbonização da nossa matriz", disse ele. O ministro afirmou que o projeto da Ferrogrão, importante empreendimento para escoamento da safra brasileira, está "bem adiantado e deve ser enviado em breve para o Tribunal de Contas da União (TCU)", já vinculado ao selo verde.
A diretora-executiva da CBI, Justine Leigh-Bell, disse que existem oportunidades, produtos e ferramentas prontos para os investimentos verdes na agropecuária brasileira, principalmente devido ao arcabouço legal, como o Código Florestal, e que é preciso apenas ligar os pontos para atrair os investidores. "Há realmente uma oportunidade significativa para investimento em agricultura, pecuária, energia renováveis, transporte de baixo carbono, recursos hídricos, reflorestamento, silvicultura, que podem ser empacotados para finanças verdes".
O Ministério da Agricultura e a CBI assinaram um memorando de entendimentos em novembro do ano passado para o desenvolvimento do mercado de finanças verdes na agropecuária do país. Hoje, foi apresentado o relatório "Destravando o Potencial de Investimento Verdes para Agricultura no Brasil". Em julho, devem ser divulgados os critérios desenvolvidos pela CBI para elegibilidade dos produtores para certificação. Ainda serão feitas rodadas com investidores, certificadores e produtores para impulsionar o setor. A expectativa é que as primeiras contratações ocorram ainda este ano.
fonte: Udop, com informações do Valor Econômico (escrita por Rafael Walendorff)