Queda esperada no consumo de combustíveis limita alta do açúcar
12/05/2020 - 08:07h
Imagem: Banco de Imagens
Quanto mais o real se deprecia em relação ao dólar, mais as usinas adicionam novas fixações de preço dos açúcares destinados à exportação olhando não apenas para a safra 2021/2022, mas também para a 2022/23. Na semana que se encerrou, a moeda brasileira quebrou novo recorde e chegou a negociar a R$ 5,8400 logo após a divulgação da redução da taxa de juros básica da economia para 3% ao ano o menor valor da história. Na sexta, encerrou o dia cotada a R$ 5,7400.
O mercado de açúcar em NY, apesar da desvalorização do real, tem conseguido se manter com o nariz acima do nível de 10 centavos de dólar por libra-peso muito em função da recuperação do preço do petróleo no mercado internacional. O contrato futuro de açúcar com vencimento julho/20 encerrou negociado a 10.14 centavos de dólar por libra-peso, equivalendo a R$ 1,337 por tonelada e uma apreciação na semana de 7,25 dólares por tonelada.
No acumulado do mês de maio, WTI, RBOB e Brent lideram com a valorização de 37%, 31% e 22%, respectivamente.
Anunciamos aqui na semana passada a aprovação da CIDE para os combustíveis elevando para R$ 0,30 por litro do atuais R$ 0,10 mais a cobrança de um imposto de 15% na importação da gasolina, que dariam um acréscimo de aproximadamente R$ 0,25 por litro no hidratado. Erramos. A aprovação, dada como certa por uma de nossas fontes mais confiáveis, acabou não ocorrendo e o governo voltou atrás.
Positivamente, o enorme volume de açúcar bruto entregue contra a expiração do contrato futuro de maio em NY, na semana passada, deve encontrar espaço no destino final uma vez que o prêmio de branco (a diferença entre o açúcar refinado e o açúcar bruto) tem favorecido a demanda pelo bruto. No porto de Santos, segundo a agência de navegação Williams, a fila de navios aguardando na barra conta com mais de 35 embarcações que devem carregar o equivalente a dois milhões de toneladas de açúcar destinados a Bangladesh, China, Marrocos, Nigéria e Iêmen, entre outros.
O cenário atual continua ciclotímico. Se alguém disser que sabe o que vai acontecer com o mercado sob esse estado de coisas e com tantas variáveis incontroláveis, certamente não está gozando plenamente de suas faculdades mentais. Estamos longe de uma solução. Um analista político de grande experiência me confidencia que a coisa no Brasil deve piorar bastante mais adiante. Segundo ele, "no começo de agosto vai ficar claro o tamanho do tranco que vamos levar: em número de mortos e doentes, no número de desempregados e desalentados e no número de empresas que fecharam ou irão fechar. Além do espalhamento geográfico da crise".
Por essas questões, é importante não perder o foco na hora de fixar o açúcar. Não perder oportunidade de garantir uma boa rentabilidade. Continuamos convictos de que um grande volume de açúcar será também entregue fisicamente contra as expirações dos vencimentos julho e outubro. As usinas que possuem uma politica de risco adequada estão se antecipando e fazendo seus hedges antes mesmo de saberem o quanto de açúcar adicional vão produzir, nem o prêmio/desconto que estarão sujeitas na hora de negociar o contrato comercial. Veja bem, os fundos não-indexados estão vendidos mais de 48,000 lotes e estima-se que as usinas terão que vender pelo menos 75,000 lotes para fixarem o açúcar a ser produzido adicionalmente.
A nossa visão preocupante de mais açúcar a ser produzido pelas usinas é respaldada pelo estudo que a Archer Consulting divulgou aos seus clientes sobre o consumo de combustíveis no Brasil para este ano, sob o cenário da pandemia. Estamos prevendo uma queda sem precedentes no Ciclo Otto de 9.35% em relação ao ano passado. Em 2019, o Brasil consumiu 60.7 bilhões de litros de combustíveis total (gasolina A, anidro e hidratado) que correspondem a 53.95 bilhões de litros gasolina equivalente. Para este ano, nossa previsão baixou para 48.9 bilhões de litros.
Além de uma perda de receita em valores correntes de mais de R$ 10 bilhões, só com o etanol, o setor ainda terá que lidar com a enorme complexidade da situação que vai exigir muito esforço na renovação de linha de crédito, com o infalível descumprimento de contratos por parte de usinas que estão respirando por aparelhos, com a dificuldade de armazenagem e tancagem com a desaceleração do ritmo de saída dos produtos.
O consumo médio anual de combustível dos automóveis movidos a gasolina em 2019 foi de 1.202 litros por veículo, quase 2% inferior ao ano de 2018. Para os carros flex., o consumo médio foi de 1.521 litros, cerca de 5.3% inferior aos 1,606 litros consumidos no ano anterior. As motocicletas consumiram, em média, 423 litros em 2019, uma queda de 8.5% em relação a 2018. No ano passado, nosso modelo mostra que 43.79% dos veículos flex optaram pelo uso de etanol na hora de abastecer. Em 2020, esse percentual deve cair para 34.58%. Acreditamos que o consumo de hidratado despenca para 15,94 bilhões de litros este ano, uma retração substancial de 29% em relação a 2019.
fonte: Udop, com informações da Archer Consulting (escrita por Arnaldo Luiz Corrêa, diretor)