Retomada do etanol põe em xeque açúcar no Brasil, diz BP-Bunge
12/01/2021 - 08:15h
A recuperação da demanda por combustíveis no Brasil aumenta a possibilidade de maior produção de etanol e menos açúcar do que se pensava inicialmente, o que sustenta os preços da commodity, segundo a BP Bunge Bioenergia.
Os preços do etanol devem subir neste ano no Brasil, maior exportador de açúcar, e reduzir o prêmio da commodity em relação ao biocombustível para cerca de 0,8 centavo de dólar por libra-peso a partir de outubro, contra 2 a 3 centavos de dólar no ano passado, disse Ricardo Carvalho, diretor comercial da joint venture BP Bunge Bioenergia.
"Começamos a ver que a paridade do açúcar e etanol se aproximará do nível em que as usinas poderiam iniciar uma mudança do açúcar para o etanol na segunda metade da temporada 2021-22", disse Carvalho em entrevista por telefone. "Isso deve criar uma disputa de preços entre os dois produtos pelo caldo da cana."
Os futuros do açúcar acumulam alta de cerca de 30% nos últimos seis meses devido ao clima desfavorável no Brasil, baixa produção na Tailândia e na Europa e subsídio à exportação menor do que o esperado na Índia. A recuperação dos preços do petróleo também ajudou.
A valorização das cotações globais do petróleo tende a encarecer a gasolina no Brasil e aumentar a demanda por etanol.
"Vemos o mercado doméstico de etanol no Brasil se equilibrando por meio de um aumento de preços", disse.
A projeção para a produção de açúcar no Brasil já era de queda após a seca prolongada no ano passado, o que reduziu a produtividade da cana e trouxe a perspectiva de dois anos de déficits no mercado global. A recuperação do mercado de combustíveis brasileiro reduziria ainda mais a oferta.
A BP-Bunge prevê aumento de 9% do consumo de combustível no Brasil neste ano, enquanto a produção de etanol na principal região produtora deve cair 10%, para 27 bilhões de litros na safra 2021-22, devido à queda de 4,1% da cana disponível para moagem.
Menos cana e a percepção de que o etanol pode ser mais lucrativo até o final do ano também levaram a BP Bunge a estimar queda de 5,3% da produção de açúcar, para 36 milhões de toneladas, já que as usinas podem desviar 47,5% do caldo de cana para o adoçante em comparação com o limite de 48,9%. Isso significaria corte de 1 milhão de toneladas de açúcar em relação ao potencial de produção.
Os futuros do açúcar, atualmente em cerca de 15,80 centavos de dólar por libra-peso, terão como meta o nível de 16,50 centavos para refletir as exportações da Índia, pelo menos para os contratos de março e maio, disse Carvalho.
"A partir daí, vemos (os preços) em Nova York sendo negociados em níveis suficientes para garantir que o etanol não desvie mais caldo da cana da produção de açúcar no Brasil", afirmou.
fonte: Udop, com informações da Bloomberg (texto extraído do Money Times)