Uso de etanol é solução de curto prazo para reduzir emissões de gases em Noronha, diz estudo
02/03/2021 - 08:10h
A substituição de carros movidos a gasolina e óleo diesel por veículos elétricos, em Fernando de Noronha, é uma das principais ações do programa "Noronha Carbono Zero", que prevê a redução de gases de efeito estufa. Um estudo divulgado neste segunda (1º) pela Organização Não-Governamental (ONG) WWF-Brasil indicou, no entanto, que o uso de carros movidos a etanol seria a melhor alternativa.
A maior parte da produção de energia na ilha é feita com a queima de óleo diesel, na Usina Tubarão. As análises dos ambientalistas indicaram que substituir a gasolina por etanol reduziria as emissões de gases de efeito estufa em 77%. Com os veículos elétricos, esse índice seria de 52%.
O estudo indicou, ainda, a vantagem de dispensar investimentos públicos e privados em veículos elétricos e sistemas de recarga.
A lei, aprovada pelo governo do estado, determina que, a partir de 2022, só podem entrar na ilha veículos elétricos. A lei estadual também determina que até 2030 os carros movidos a combustão devem ser removidos de Fernando de Noronha.
Os representantes do WWF-Brasil consideram que a utilização de elétricos na ilha só traria melhor efeito com a mudança da matriz energética.
"O uso de etanol é a melhor alternativa para o meio ambiente, a curto prazo. No médio e longo prazos, é preciso concluir a mudança da matriz energética da ilha como um todo: não apenas o consumo de combustíveis, mas a geração de eletricidade", falou o analista de Conservação do WWF-Brasil, Ricardo Fujii.
Em Fernando de Noronha, não há o comércio de etanol, o único posto de combustível da ilha só disponibiliza gasolina e óleo diesel.
"Nós temos uma concessão pública, um contrato com o governo do estado. É possível vender etanol, mas, provavelmente, seria mais caro para o consumidor por causa dos custos de transporte marítimo", informou o diretor da empresa responsável pelo posto, Rafael Coelho.
Os preços dos combustíveis na ilha estão entre os mais caros do Brasil. O litro da gasolina custa R$ 7,69 e o óleo diesel é vendido por R$ 6,05, o litro.
Matriz Energética
Segundo o estudo do WWF, a matriz energética da ilha é composta, atualmente, por termoeletricidade e energia solar. Em 2019, a energia produzida com a queima de diesel representou 90%, já a energia solar foi responsável por 10% da energia gerada.
O consumo mensal médio de diesel para produção de energia é de 554 mil litros, um custo mensal de R$ 3 milhões. A emissão é de 1.170.000 kg de CO2 por mês (dados de 2018).
O estudo do WWF-Brasil indicou a redução da dependência dos combustíveis fósseis.
As recomendações incluem a ampliação do uso da energia solar fotovoltaica, a troca dos geradores eólicos danificados por outros mais potentes e eficientes e a adoção do biodiesel e da biodigestão dos resíduos sólidos orgânicos e esgoto.
Os ambientalistas afirmaram que, quando utilizadas em conjunto, as ações permitiriam a redução das emissões na ilha em quase 90%.
A mudança teria efeito positivo sobre as emissões geradas pelo transporte do óleo diesel entre o continente e a ilha, realizado a cada 10 dias.
Veja recomendações do estudo
Substituição dos veículos já existentes a gasolina por etanol e do diesel por biodiesel. Além de poder ser feita com custos baixíssimos, essa opção é a que traz a maior redução de emissões veiculares no curto prazo. A opção também aproveita o etanol enquanto a geração de eletricidade na ilha não se torna majoritariamente renovável.
Ampliação da geração fotovoltaica em pousadas, estabelecimentos comerciais e residências, aumentando a geração distribuída na ilha e diminuindo a necessidade de subsídios para a geração termelétrica a diesel.
Aumento da utilização de biodiesel na geração termelétrica, eventualmente substituindo 100% do diesel.
Implantação de novos geradores eólicos, onde já operaram geradores de pequeno porte ou em localidades próximas. A grande evolução desses geradores possibilita a geração de volumes muito maiores de energia a custos bastante competitivos.
Coleta e aproveitamento dos efluentes (esgoto doméstico) e resíduos orgânicos para tratamento dos resíduos e geração de biogás.
Implantação de veículos elétricos quando a geração de eletricidade se tornar majoritariamente renovável.
Resposta do governo
O G1 procurou a Administração de Fernando de Noronha e a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (Semas-PE) para analisar as propostas do WWF-Brasil.
Os dois órgãos do governo do estado enviaram uma nota conjunta e informaram que o Projeto "Noronha Carbono Zero" não "se trata de uma ação isolada".
"O projeto integra uma consistente Política Estadual de Enfrentamento às Mudanças Climáticas (Lei Nº 14.090/2010), com um plano de ação que visa alcançar a neutralidade das emissões de gases de efeito estufa (GEE) na ilha", informou a nota.
A nota indicou também que estão previstos o uso das energias limpas e a substituição gradativa e racional de matrizes energéticas fósseis.
O governo prevê a instalação de 12 ecopostos na ilha, todos com captação de energia solar para abastecer a frota de veículos elétricos.
"Diferentemente dos veículos movidos a etanol, que ainda emitem CO2, os carros elétricos não liberam gases de efeito estufa (GEE ) na atmosfera ao serem usados e, mesmo considerando as emissões indiretas pela forma de abastecimento, tenderá a ser nulo em Noronha, uma vez que a recarga das baterias ocorrerá a partir de placas fotovoltaicas", relatou a nota.
Ainda segundo o governo, os ecopostos têm investimentos da ordem de R$19 milhões, fruto de um Acordo de Cooperação Técnica assinado entre o Governo de Pernambuco e a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe).
"Dentro desse acordo com a Celpe, também está previsto o acionamento de dois novos módulos de baterias solares fotovoltaicas, que vão praticamente dobrar o fornecimento de energia limpa em horários de pico", descreveu a nota.
O governo informou, ainda, que um o estudo deve ser realizado para analisar a viabilidade para a implantação de uma usina de biogás.
O G1 também entrou em contato com a Celpe para saber se existe previsão de mudança da matriz energética da ilha, mas até a publicação desta matéria não recebeu resposta.
fonte: Udop, com informações do G1 PE (escrita por Ana Clara Marinho)