Agronegócio deve responder por metade da alta do PIB de 2023
09/01/2023 - 10:27h
Prognóstico de economistas se baseia na perspectiva de novo recorde na safra de grãos, em especial da soja.
Diante da freada provocada pelos juros elevados não só por aqui, mas também no exterior, o Brasil terá que, mais uma vez, contar com a força do campo para escapar do baque econômico que assombra os países ricos. Conforme os cenários traçados por economistas, deve vir da agropecuária entre metade e 75% do modesto crescimento previsto para o Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem.
O prognóstico se baseia na perspectiva de não repetição das adversidades climáticas que comprometeram as lavouras neste ano, o que deve confirmar um novo recorde na safra de grãos, em especial da soja. Como se trata de alimentos - ou seja, um produto essencial -, as exportações dos produtores agrícolas estão, em tese, menos expostas ao esfriamento da economia global.
O relaxamento das restrições à mobilidade da política de covid zero na China também abre um cenário menos nebuloso ao comércio internacional, apesar da conjuntura difícil em função da guerra na Ucrânia e do risco de recessão tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.
As projeções de mercado coletadas pelo Banco Central (BC), divulgadas no boletim Focus, apontam hoje um crescimento de 4,1% da agropecuária no ano que vem. Se confirmado o prognóstico, o setor, que, conforme as projeções, deve terminar 2022 praticamente empatado com 2021, ganharia tração e marcaria o maior crescimento entre os componentes do PIB pela ótica da oferta.
“O crescimento global mais fraco pode afetar as exportações, mas os alimentos sofrem menos por sua essencialidade, que assegura uma demanda cativa no exterior, além da possibilidade de uma maior reabertura na China”, comenta Flávio Serrano, economista da BlueLine, para quem o agronegócio pode ajudar a “salvar” o que poderiam ser três trimestres consecutivos de retração do PIB. “Vai evitar um resultado pior.”
O arrocho monetário, que já se manifesta na atividade econômica, combinado à sinalização do BC de juros altos por período prolongado, não deve dar trégua nos próximos seis meses, castigando em maior intensidade as atividades mais sensíveis a crédito, como a construção civil e a indústria de bens duráveis.
Essa freada vinda dos juros não deve ser suficiente, porém, para derrubar o consumo das famílias, dada a recuperação da renda com a expansão de programas sociais e dos salários, em função de um mercado de trabalho aquecido, além da desinflação esperada.
Com isso, mesmo perdendo tração com o esgotamento dos efeitos da reabertura - uma das principais forças do crescimento da atividade neste ano -, o setor de serviços deve continuar contribuindo positivamente ao PIB. As previsões de mercado são de crescimento de 0,9% dos serviços em 2023, bem menos do que os 3,7% de 2022. Para a indústria, a tendência é de estagnação: alta de apenas 0,2%.
“Nossa expectativa é de que aproximadamente metade da expansão do PIB do próximo ano seja resultado do crescimento do PIB agropecuário. O setor de serviços também deve contribuir positivamente, enquanto projetamos um PIB industrial próximo da estabilidade”, diz Natalia Cotarelli, economista do Itaú Unibanco.
Menos de 1%
Há dúvidas entre os economistas sobre qual será o saldo entre a retomada dos investimentos públicos no primeiro ano de governo Lula e o impacto das incertezas fiscais sobre a confiança e o custo de financiamento dos investimentos privados. A expectativa, por enquanto, é de um crescimento de apenas 1% da formação bruta de capital fixo, sinônimo de investimentos, no ano que vem.
Quando se coloca todas as variáveis na equação, o resultado é uma economia que volta a crescer abaixo do padrão dos três anos anteriores à pandemia. Entre 2017 e 2019, a atividade já era morna, porém não crescia menos do que 1%, como se prevê para o ano que vem. “A tendência é termos uma economia de baixo dinamismo, com mais vetores baixistas do que altistas”, afirma Lucas Maynard, economista do Santander.
Nas contas do Santander, a agropecuária deve crescer 7,5% no ano que vem, representando algo entre 60% e 75% do crescimento previsto para todo o PIB: 0,8% (O Estado de S.Paulo, 23/12/22)
Fonte: brasilagro