Algodão: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP Dezembro/22
11/01/2023 - 16:30h
Os preços do algodão em pluma registraram oscilação expressiva nos mercados interno e externo ao longo de 2022. A menor oferta global deu o tom altista, enquanto preocupações com o cenário inflacionário, a recessão econômica mundial e a redução na demanda global, sobretudo por parte da China, pressionaram os valores internacionais e, consequentemente, domésticos.
As cotações internas até encontraram sustentação em boa parte do primeiro semestre, mas registraram quedas bruscas na segunda metade do ano, quando novas estimativas de oferta e demanda apontaram recuperação dos estoques mundiais. De forma geral, o preço no mercado interno acompanhou os movimentos dos valores internacionais e da paridade de exportação.
Ainda assim, os preços domésticos mostraram vantagem sobre os de exportação no spot, o que estimulou algumas tradings a atuarem no mercado nacional. Entre 30 de dezembro de 2021 e 29 de dezembro de 2022, a paridade de exportação acumulou baixa de 22,4%, pressionada pela queda de 19,75% do Índice Cotlook A (referente à pluma posta no Extremo Oriente) e pela desvalorização de 5,29% do dólar frente ao Real no mesmo período.
Ainda, o primeiro vencimento da Bolsa de Nova York (ICE Futures) teve retração de 25,96% em 2022 (até o dia 30 de dezembro). No mercado físico, depois de subir expressivos 68,24% em 2021, o Indicador do algodão em pluma CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, acumulou queda de 17% em 2022, fechando em R$ 5,3192/lp no dia 29 de dezembro.
No entanto, de janeiro a dezembro/22, a média da pluma ainda esteve 23,2% maior que a do mesmo período de 2021. Além disso, o Indicador do algodão em pluma CEPEA/ESALQ atingiu recordes nominais sucessivos em alguns períodos de 2022, chegando a R$ 8,1834/lp no dia 18 de maio, máxima da série histórica iniciada em 1996.
Naquele mês de maio, a média foi de R$ 7,9647/lp, recorde nominal e, em termos reais (IGP-DI, base novembro/22), a mais alta desde março de 2011 (R$ 9,9562/lp). Nesse período, o impulso aos preços veio da baixa disponibilidade de lotes de pluma, sobretudo de maior qualidade, devido ao período de entressafra.
Compradores com baixos estoques tiveram de aceitar as ofertas de vendedores a preços maiores, diante do bom volume da safra 2020/21 já comprometida em contratos a termo, especialmente destinadas à exportação. Somente a partir de junho que parte dos vendedores esteve mais flexível, tendo em vista a entrada da nova safra e a necessidade de “fazer caixa”.
Compradores, que tinham expectativa de conseguir negócios com preços inferiores, atentos aos avanços da colheita e do beneficiamento, ofertaram valores ainda menores, o que limitou a liquidez no mercado e manteve o Indicador em ritmo de queda.
Já em julho, com a intensificação da colheita, do beneficiamento e da classificação dos lotes, produtores seguiram priorizando o cumprimento dos contratos, influenciados por incertezas quanto à produtividade da safra 2021/22 em algumas regiões.
No segundo semestre, os players estiveram em “queda de braço” quanto aos preços e à qualidade. Cotonicultores estavam com boa parte da safra comprometida, capitalizados e, muitas vezes, com baixo interesse em negociar nos preços praticados no spot. Já compradores seguiram com aquisições “da mão para boca”.
No último trimestre, as incertezas políticas no Brasil, as dificuldades de carregamento – especialmente no início de novembro, diante das paralisações e bloqueios nas estradas – e as flutuações nos preços reforçaram a retração de agentes do spot.
ALGODAO- Foto Evaristo Sa AFP.jpg
SAFRA BRASILEIRA 2021/22
De acordo com a Conab, houve aumento de 16,8% na área semeada na safra 2021/22 frente à anterior, somando 1,6 milhão de hectares. Já a produtividade foi estimada em 1.593 kg/ha, quedas de 7,4% se comparada à da temporada passada e de 10,1% frente à primeira estimativa da Conab, de outubro/21.
Dessa forma, a produção da temporada 2021/22 foi projetada em 2,55 milhões de toneladas, alta de 8,1% frente à anterior e a terceira maior da história. Em outubro/21, a Conab previa consumo nacional na temporada 2021/22 em 765 mil toneladas e, em dezembro/22, a estimativa passou para 705 mil toneladas (-8%). Quando comparado com a safra 2020/21, a queda é de 2,1%.
Com suprimento projetado em 3,94 milhões de toneladas e as exportações estimadas em 1,902 milhão de toneladas, o estoque de passagem em dezembro/22 é indicado pela Conab em 1,338 milhão de toneladas.
EXPORTAÇÃO
Segundo a Secex, de janeiro a dezembro, o Brasil exportou 1,8 milhão de toneladas de pluma, 11% inferior ao total embarcado em 2021 (2,016 milhões de toneladas). Até novembro, os principais destinos foram China (representando 28% do total), Vietnã (15%), Bangladesh (13%), Paquistão (13%), Turquia (13%) e Indonésia (7%).
Quanto aos preços, em dólar, ainda de acordo com a Secex, o valor médio no ano foi de US$ 0,9569/lp, 24% maior que o registrado em 2021 e próximo ao recorde registrado em 2011 (US$ 0,9606/lp). No entanto, os valores de exportação continuam inferiores aos praticados no spot brasileiro desde nov/20, sendo que, em março/22, especificamente, chegaram a ficar 36,8% menores que a média do Indicador.
USDA
Mesmo com a queda no volume da China e da Índia, os dois principais países produtores, a produção mundial da temporada 2021/22 foi estimada em 25,197 milhões de toneladas, 3,8% maior que a da anterior (2020/21); já o consumo global foi previsto em 25,562 milhões de toneladas, retração de 4,7%, mas ainda é 1,4% acima da oferta mundial.
Logo, a relação estoque/consumo ficou em 72,78% na safra 2021/22. Quanto à comercialização mundial, as importações foram estimadas em 9,338 milhões de toneladas e as exportações, em 9,332 milhões de toneladas na temporada 2021/22, ambas com queda de 12% frente ao da safra anterior. Dessa forma, o estoque mundial registro