Café: Vendidos 1 x Comprados 0 – Por Marcelo Fraga Moreira
13/02/2023 - 11:58h
A semana começou com o mercado de olho no primeiro vencimento de opções do ano referente ao vencimento do contrato Março-23. Com posição em aberto considerável nas opções de compra (Call*) e nas opções de venda (Put*) entre os vencimentos/strikes +165/+200 centavos de dólar por libra-peso o mercado não teve forças para castigar os “vendidos”. O Março-23 oscilou entre a mínima/máxima respectivamente @ 171,25 / 178,50 centavos de dólar por libra-peso, fechando na sexta-feira @ 174,75 centavos de dólar por libra-peso. Com esse fechamento, aproximadamente +13.000 lotes de opções de compra “Call” entre os strikes +175/+200 centavos de dólar por libra-peso viraram “pó” e aproximadamente +15.000 lotes de opções de venda “put*” entre os strikes +210/+175 serão exercidas. Desta forma, poderemos ver o mercado realizando mais um pouco na próxima segunda feira para novo ajuste nas posições.
O Set-23 tem a próxima resistência @ 179,70 centavos de dólar por libra-peso e suportes nas médias móveis dos +100 / +17 / +50 dias respectivamente @ +172,90 / +169,90 / +164,90 centavos de dólar por libra-peso.
A posição dos fundos + especuladores continua sendo uma incógnita. Novamente o CFTC* não divulgou os dados na sexta-feira pois sofreram ataques de hackers e ainda estão tentando resolver os problemas internos (aparentemente os hackers estão pedindo um “resgate de 50 milhões de US$”)!
O mercado ficou concentrado na rolagem das posições do março-23 para o maio-23 e julho-23 inflando o volume diário negociado na semana (aproximadamente +70 mil lotes/dia).
A preocupação com as diretrizes do novo governo levou o R$ a voltar a desvalorizar novamente -3,10% (atingindo a máxima do ano @ 5,3090 R$/US$) e de certa forma impedindo NY de romper os +180 centavos de dólar por libra-peso.
Produtor continua vendendo “da mão para a boca”, com poucos negócios sendo reportados entre +1.000/+1.250 R$/saca para o café tipo arábica e entre +580/+700 R$ para o café tipo robusta (dependendo da qualidade, local, e certificações do produto).
Na semana tivemos novas estimativas para a safra 23/24, dentre elas:
– Comexim: safra 23/24 em +64 milhões de sacas com exportação subindo para +41,5m sacas;
– Grupo Montesanto Tavares: safra 23/24 em +67,56 milhões de sacas (sendo +45,67 milhões de sacas para o café tipo arábica e +21,89 milhões de sacas para o café tipo robusta).
– IBGE: safra 23/24 em 55,3 milhões de sacas (sendo +38,6 milhões de sacas do café tipo arábica e +16,8 milhões de sacas para o café tipo robusta).
Como já falamos aqui, a diferença entre a previsão da Conab em +54,90 milhões de sacas e a previsão do Grupo Montesanto Tavares em +67,56 milhões de sacas equivale praticamente a 1x a produção da Colômbia!
Essa “pequena diferença” em aproximadamente +/- 12 milhões de sacas será o catalizador para direcionar os preços do produto para os próximos 12-18 meses!
Acreditamos que os preços serão construtivos se a safra brasileira 23/24 vier entre +53/+60 milhões de sacas (podendo buscar os +200 centavos de dólar por libra-peso) ou baixistas se vier acima dos +60 milhões de sacas (podendo buscar os +140/+130 centavos de dólar por libra-peso).
Em R$/saca, estimamos que os preços, dependendo da produção acima, poderão oscilar entre +850 / +1.450 R$/saca para o café tipo arábica e entre +400 / +900 R$/saca pra o café tipo robusta. Por que tanta diferença? Estimativas acima com base no R$ spot @ 5,30 R$/US$ e entre a mínima/máxima para o contrato Set-24 oscilando entre @ +120 /+210 centavos de dólar por libra-peso. Se ocorrer algum evento climático, não só no Brasil mas também em algum outro grande produtor, então os preços poderão atingir novas máximas.
E já tem gente estimando uma super safra recorde para 2024/25, acima dos +80 milhões de sacas! Se a safra 23/24 ocorrer sem problemas, sem geadas/quebras e o clima ajudar durante o segundo semestre de 2023 então uma safra 24/25 acima dos +80 milhões de sacas poderá sim ocorrer. E os preços irão pra onde? A pergunta do +1 milhão de dólares, e a resposta “vaga” de sempre, “depende”:
– depende dos juros americanos;
– depende da relação R$/US$;
– depende do consumo global;
– depende da oferta dos outros países produtores;
Ou seja, recomendamos que cada um rode o seu cenário e tome suas decisões em função do seu modelo/premissas! E tenham sempre os seus custos na ponta do lápis para não tomar decisão errada! E proteger o seu “custo de produção com X% de margem”.
Considerando o quadro atual, com possível reconstrução no estoque mundial, o índice “estoque x consumo” poderá voltar a patamares acima dos +20% já a partir da safra 24/25. Se esse cenário ocorrer então poderemos ver os preços, base NY para o Set-24, voltando a negociar novamente abaixo dos +130 centavos de dólar por libra-peso.
O Brasil continuará sendo monitorado de perto durante os próximos 3-5 meses! As já exportações começaram a cair. Em janeiro-23, segundo a Cecafé, o Brasil exportou +2,85 milhões de sacas (-11% em relação a dez-22; -16,70% em relação a jan-22 e -22,30% em relação a jan-21). Como será a exportação em fevereiro-23? Pelas projeções dos dados disponibilizados pela Cecafé as exportações deverão ficar entre +2,450/+2,650 milhões de sacas!
Muitos já estão justificando essa redução nas exportações com base na “redução do consumo mundial”. Porém para a maioria dos produtores essa redução significa o resultado de uma safra 22/23 abaixo do estimado (lembrando que a safra 22/23 foi estimada entre +50,40 /+64.20 milhões de sacas)!
Se nos próximos 5 meses o Brasil conseguir exportar na média +2,50 milhões de sacas/mês irá terminar o ano-safra 22/23 exportando apenas +34,60 milhões de sacas! Lembrar que algumas casas/bancos estimaram (e estão esperando) uma exportação brasileira para o ano-safra 22/23 entre +38/+42 milhões de sacas. Essa redução potencial na oferta entre -4,00/-6,00 milhões de sacas deverá “fazer preço” nos próximos vencimentos de maio-23 e julho-23! O superavit global estimado pelo Rabobank em +1,60 milhões de sacas já entraria em déficit e os “vendidos” deverão voltar as compras – ATENÇÃO! Poderemos ter um “rallie de curto prazo” antes da entrada da próxima safra brasileira!
Os estoques certificados terminaram a semana com apenas +874.654 sacas. Após a “jogada” da recertificação iniciada no último trimestre do ano passado agora já não existe mais café “aguardando recertificação”. Com a redução nas exportações do Brasil e Colômbia acreditamos que esses estoques continuarão sendo consumidos voltando a patamares críticos. Esse café dos “estoques certificados” continua sendo o “mais barato” no momento.
A demanda mundial continua sendo o “X” desse quebra-cabeças. Os juros americanos (ao redor dos +5% ao ano) e com novos aumentos esperados pelos demais principais bancos centrais (Inglaterra, Zona do Euro, Japão) a recessão global não é apenas “se” mas “a partir de quando”? A China continua sendo a grande aposta no curto/médio prazo para as coisas não piorarem…
Com o custo do dinheiro nas alturas muitas tradings e compradores no destino final deverão postergar ao máximo suas compras. Dificilmente terão linhas de crédito e apetite para tomarem posições antecipadas e correrem o risco nas suas contas de hedge.
Produtores façam a contas. Com os juros no Brasil remunerando acima de +1% ao mês talvez faça sentido vender o saldo disponível “hoje” e aplicar o dinheiro durante os próximos 5 meses na renda fixa, ou investindo na sua propriedade. R$ 1.150/saca “hoje” com juros @ +1% ao mês representa R$ 1.208,66/saca em julho-22!
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos!
Recomendações:
Para o produtor “vendido”: proteja-se comprando opções de compra “call*” ou estruturas “call-spread*” contra o Set-23 e/ou Set-24 (para se proteger contra eventual risco de geada/quebra na sua safra).
Para o produtor “comprado/long” proteja-se analisando a compra de seguro contra eventual queda nos preços garantindo um preço mínimo para entrega contra o Set-23 e contra o Set-24 ao redor dos +1.000 R$/saca (através da compra de opção de venda “put*” e/ou estrutura “put-spread* com venda de opção de venda call*” a custo zero.
Também recomendamos que as vendas da safra nova 23/24 para entrega entre maio/junho/julho-23 sejam realizadas contra o contrato Set-23. O mercado fechou levemente invertido, com o Julho-23 @ +174,30 centavos de dólar por libra-peso e o Set-23 @ +173,20 centavos de dólar por libra-peso.
Mas lembrem-se: o Set-23 irá refletir e capturar eventual problema climático durante o período do inverno brasileiro (as opções contra o vencimento Julho-23 expiram no próximo dia 09 de junho e o contrato expira no dia 19 de julho. Já as opções do Set-23 expiram no dia 11 de agosto e o contrato expirará no dia 19 de setembro)! Assim o produtor terá mais tempo para fixar seu produto e estará seguro caso venha a sofrer algum contratempo durante o período do inverno/colheita!
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