Flórida: Cultivo de laranjas vive forte crise e Brasil aumenta exportações
31/03/2023 - 09:23h
Estado norte-americano foi atingido por furacão e praga nas lavouras.
Há cinco gerações a família de Vernon C. Hollingsworth tem como empreendimento o campo de 1.700 hectares de laranjais em Arcadia, oeste da Flórida. Além do orgulho, este agricultor também sente preocupação desde setembro, quando a passagem do furacão Ian destruiu sua safra.
"Eu perdi entre 95 e 97% da minha colheita", lamentou Hollingsworth. "Vamos ter que replantar e precisaremos de ajuda para isso".
O segundo maior produtor mundial de suco de laranja, atrás do Brasil, este estado já enfrentava outra crise há 17 anos: o Huanglongbing (HLB) —doença dos cítricos causada por uma bactéria transmitida pelo inseto psilídeo asiático.
Quando uma árvore é infectada por esta bactéria, seus frutos ficam amargos e impróprios para venda. Grande parte das espécies morrem em poucos anos.
A crise provocada pelo furacão Ian e a doença deixaram a indústria seca.
A produção de laranjas na Flórida durante esta temporada será de 16,1 milhões de caixas de 40,8 quilos, 60,7% menor que na temporada anterior e uma das mais baixas desde 1930, segundo uma estimativa do Departamento de Agricultura americano.
De acordo com os cálculos da Universidade da Flórida, o furacão provocou perdas de US$ 1,03 bilhão (cerca de R$ 5,3 bilhões) para a agricultura estatal, sendo US$ 247,1 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão) apenas no setor dos cítricos.
"NO PIOR MOMENTO"
A situação é especialmente dolorosa para Hollingsworth, já que, antes do furacão Ian, a temporada parecia ser promissora.
O agricultor havia começado a injetar em suas laranjeiras dois tratamentos bactericidas aprovados pelas autoridades americanas contra o HLB.
"Com os novos tratamentos, vi que (as laranjeiras) podiam florescer e crescer como antes. E estávamos trabalhando nisso. Para os cítricos da Flórida, esse furacão não poderia acontecer no pior momento", diz o agricultor.
Além dos trabalhadores sazonais, sua empresa possui cerca de 50 pessoas contratadas em tempo integral. No entanto, enfrenta meses difíceis.
Os lucros de uma colheita permitem a produção da próxima, entretanto neste ano ele quase não teve renda. O seguro não pagou o suficiente pelos danos e cada árvore replantada levará quatro anos para dar frutos, explica Hollingsworth.
Ele afirma que "é muito difícil. Eu tento fazer o melhor que posso, mas seria incrível conseguir ajuda (do estado da Flórida ou do governo federal). Realmente precisamos muito disso".
A diretora de pesquisa econômica e mercado do Departamento de Cítricos da Flórida —agência estatal responsável pelo setor—, Marisa Zansler garante que eles trabalham para ajudar os agricultores a plantar árvores.
A diretora afirmou que a iniciativa é fundamental para fortalecer a indústria cítrica, que contribui com US$ 6,9 bilhões (cerca de R$ 35,5 bilhões) para a economia da Flórida e gera mais de 32.500 empregos.
Enquanto esperam a ajuda, o preço do suco de laranja dispara nos supermercados americanos e o Brasil se aproveita da situação.
O Brasil exportou 240 mil toneladas deste produto para os Estados Unidos nesta temporada, 82% a mais que na temporada anterior, segundo dados oficiais.
Apesar dos problemas, Hollingsworth não perde as esperanças em Arcadia. Ele está convencido de que, se superar este baque, o futuro será brilhante, principalmente com os tratamentos contra o HLB.
Ele não tem outro plano, de qualquer maneira. "Vou continuar com isso", diz ele, "não sei fazer outra coisa" (Folha de S.Paulo, 31/3/23)