Indústria fortalecida é estratégica para desenvolvimento da economia brasileira
19/11/2020 - 08:35h
Imagem: Gajus-Images, de envatoelements
A pandemia de covid-19 deteriorou as perspectivas de crescimento do Brasil em 2020 e impôs uma série de novos desafios para os setores produtivos voltarem a ganhar tração.
Nesse processo de retomada, a indústria ocupa papel central e função estratégica. Ela é responsável por oferecer novas opções –tecnologia e inovação– e dinamizar os demais segmentos da economia. Nesse sentido, sua atuação tem um efeito multiplicador, que reverbera até a ponta da cadeia produtiva, nos setores de comércio e serviços.
De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a cada real produzido na indústria, são gerados R$ 2,40 para a economia brasileira. Para efeitos de comparação, a agricultura gera R$ 1,66; e o setor de serviços, R$ 1,49 a cada real produzido.
Além disso, embora represente apenas 20,9% do PIB (Produto Interno Bruto), a indústria brasileira responde por 70,1% das exportações brasileiras, 68% dos investimentos privados em pesquisa e desenvolvimento, 33% da arrecadação de tributos federais (exceto receitas previdenciárias) e 31,2% de arrecadação previdenciária patronal.
“A indústria desempenha um papel importante no fortalecimento de todo o setor produtivo brasileiro, especialmente com seus investimentos em tecnologia e inovação. A recuperação da economia nacional passa, portanto, por melhores condições para a indústria retomar seu fôlego, voltar a produzir em plena capacidade, competir de maneira mais eficiente e voltar a crescer”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
Na indústria, são desenvolvidas e produzidas novas e mais produtivas variedades de sementes, defensivos mais eficazes e seguros, e as modernas máquinas agrícolas que fazem da agricultura brasileira uma das mais competitivas do mundo. “É na indústria que se agrega valor à produção agrícola, transformando-a em novos produtos e novos materiais, inclusive com o emprego da biotecnologia e da nanotecnologia”, ilustra o presidente da CNI.
A menor participação da indústria no PIB tem também uma causa extra que é o desenho inadequado de políticas públicas que não assimilaram as transformações ocorridas na economia global. No entanto, representantes do setor industrial acreditam que é possível recuperar parte do terreno perdido com a adoção de medidas apropriadas.
“A importância de uma política industrial decorre do fato de que os ganhos de produtividade se traduzem em maior renda e lucro para as empresas e em mais empregos de trabalhadores mais qualificados e mais bem remunerados. A longo prazo, o crescimento sustentado depende de inovações indutoras de mudanças estruturais no setor produtivo”, destaca Robson Braga de Andrade.
Para reabrir o debate sobre política industrial no país, a CNI elaborou o documento Critérios para uma nova agenda de política industrial, em que defende a necessidade de elaboração de um plano de política industrial cujo objetivo deve ser a transformação da estrutura do setor com o aumento da produtividade. Segundo a entidade, é preciso promover a incorporação de novas tecnologias à produção, o desenvolvimento de novos produtos, a adoção de modelos inovadores de negócio e a diversificação da economia para setores e atividades com maior valor agregado.
O documento reforça, ainda, a importância dos investimentos públicos e privados em ciência, tecnologia e inovação para o país desenvolver modelos de produção e de negócios conectados com a indústria 4.0 e com a economia de baixa emissão de gases do efeito estufa.
Pandemia
As medidas de restrição tomadas para reduzir o contágio da covid-19 tornaram urgentes ações que já eram consideradas importantes para a indústria. A busca por um plano de política industrial se somou à necessidade de adequar o processo produtivo à realidade de protocolos sanitários para evitar a propagação do coronavírus. Além disso, foi preciso agilizar respostas para garantir abastecimento de alimentos, medicamentos e demais insumos considerados essenciais.
De acordo com o presidente-executivo do Grupo FarmaBrasil, Reginaldo Arcuri, é necessário manter a percepção de que a indústria é o pilar fundamental de uma economia moderna. “Na pandemia, dentre outros fenômenos, nós vimos que as coisas mais imediatas demandaram respostas com velocidade impressionante”, lembra.
Segundo Arcuri, para manter a população abastecida foi preciso esforço de empresários brasileiros, especialmente relacionado ao complexo agroindustrial. “Não se produz nada hoje no setor agro e na pecuária que não envolva muito da indústria, tanto em relação a equipamentos quanto em ralação aos meios de transformação e transporte. A agricultura e a pecuária brasileira tiveram capacidade de manter o mercado abastecido porque há um processo industrial que faz com que você consiga transformar em comida o que foi produzido por esses setores”, explica.
Arcuri destaca, ainda, que a indústria brasileira conseguiu abastecer o sistema de saúde do país de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e de ventiladores mecânicos. “Embora tenha acontecido algumas compras no exterior, a indústria brasileira foi capaz não só de abastecer, mas de passar a produzir esse tipo de equipamento”, diz o presidente-executivo do Grupo FarmaBrasil. No caso específico dos ventiladores, ele lembra que foi preciso esforço estruturado de vários setores da indústria, com apoio da CNI, Sesi e Senai.
O mesmo aconteceu em relação a medicamentos. A indústria farmacêutica nacional, sejam empresas brasileiras ou multinacionais instaladas no Brasil, fez com que não faltasse nenhum medicamento. “As empresas internacionais desviaram importações de outros mercados para o Brasil e as empresas brasileiras quintuplicaram a produção de medicamento, mesmo dependendo, em boa parte, da importação de insumos farmacêuticos. Além disso, mantiveram o mercado abastecido dos medicamentos que se convencionou chamar de kit intubação. Esses medicamentos são produzidos no Brasil exclusivamente por empresas brasileiras de capital nacional”, conta Arcuri.
Outro setor considerado essencial no período de pandemia, a indústria de produtos de limpeza não parou e precisou se adaptar à nova realidade. Segundo o diretor-executivo da Abipla (Associação Brasileira de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes), Paulo Engler, um dos desafios foi conseguir adequar a produção à pandemia e às novas disciplinas de protocolos, necessários para manter a saúde e bem-estar dos trabalhadores.
Diferentemente de outros segmentos que ainda enfrentam o desafio de reencontrar o ritmo de produção perdido com a paralisação, a indústria de produtos de limpeza continuou a abastecer ambientes domésticos e hospitalares.
“Continuamos funcionando normalmente, até alguns subsegmentos no nosso setor tiveram que trabalhar em terceiro turno para dar conta da demanda. Conseguimos ter uma interlocução muito boa com o governo para algumas necessidades que aconteceram durante a pandemia e fomos atendidos. Não tivemos em nenhum momento paralisação do setor de produtos de limpeza. Então, foi dada a devida importância e conseguimos trabalhar normalmente. A interlocução da CNI foi fundamental para que isso desse certo”, conta Paulo Engler.
Criação de empregos
A participação da indústria no emprego formal no Brasil é de 20,4%, o que representa 9,7 milhões de trabalhadores. É também na indústria que estão os melhores salários. O salário médio dos trabalhadores da indústria com ensino superior completo é de R$ 7.756, enquanto a média no Brasil é de R$ 5.887.
“A indústria é o setor que mais emprega mão de obra mais qualificada. Com o aquecimento da economia, a indústria vai absorver isso. Isso é importante até mesmo para uma recuperação mais consistente da economia. Os impactos da indústria não são apenas no fato de ter produtos, mas em toda a forma de produzir, que envolve empregos melhores, pagamento de impostos mais altos, capacidade de inovar, uma relação com ambiente científico muito maior e, por isso, o resultado final da indústria é tão impressionante”, conclui o presidente-executivo do Grupo FarmaBrasil, Reginaldo Arcuri.
Perspectivas
Mesmo que a indústria brasileira tenha demonstrado capacidade de resposta imediata em um momento de crise, representantes do setor industrial veem fragilidade no que diz respeito ao crescimento sustentado da economia. Para eles, um dos obstáculos mais importantes é o atual sistema tributário brasileiro.
“As indústrias trabalham em um ambiente regulatório muito negativo. O sistema tributário brasileiro, por exemplo, não há quem no Brasil não reconheça que é um caos absolutos e que impõe custos sistêmicos absurdos para a produção no Brasil”, diz o presidente-executivo do Grupo FarmaBrasil.
Para ele, mais do que discutir os efeitos da pandemia para a indústria, é preciso aprofundar e acelerar solução dos problemas que são os de sempre para que a indústria seja mais competitiva e capaz de competir sem barreiras tarifárias especiais com a produção externa a questões relativas ao Custo Brasil.
“O grande desafio agora é mudar as condições que existiam antes da pandemia. Durante a pandemia, a indústria teve o papel de levar para o governo não só os problemas, mas soluções. Houve um esforço da CNI muito grande em agregar essas sugestões, apresentar para o governo e acompanhar a execução de crédito, de facilidades aduaneiras, de modificações nas relações trabalhistas”, recorda Arcuri.
Para o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, é fundamental trabalhar em 2021 para criar condições de um crescimento sustentado da economia e, para isso, algumas medidas são urgentes. “O Brasil precisa de uma reforma tributária, uma reforma administrativa, a manutenção do teto dos gastos públicos é fundamental para que o país faça o seu ajuste fiscal. E há medidas que também vão trazer atividade econômica para o país. O marco regulatório do saneamento básico será importante para investimentos externos e brasileiros. Se também conseguirmos aprovar o novo marco regulatório do gás natural, este será outro ponto extremamente positivo.”
fonte: Poder 360