O dilema do combustível
09/02/2021 - 08:17h
No primeiro dia útil após o presidente Bolsonaro ter prometido propor mudanças na forma como o ICMS sobre o combustível é calculado, para aplacar as intenções grevistas dos caminhoneiros, a Petrobras anunciou mais um reajuste, em vigor a partir de hoje. Mais em sintonia com os preços internacionais do petróleo – que ontem atingiram o patamar mais alto em um ano – do que com o discurso do governo federal, a estatal elevou a gasolina em 8,2%. No ano, já são 22% acumulados. O gás de cozinha, que impacta diretamente as despesas das famílias, está saindo das refinarias 5,1% mais caro. E o diesel, no cerne das queixas dos caminhoneiros, teve elevação de 6,2%.
Eterno alvo de especulações sobre privatização, a Petrobras reitera, sempre que pode, sua independência do Estado e sua política de preços atrelada ao mercado internacional e às taxas de câmbio. E mais: revelou, agora, que tem uma janela de 12 meses para adequar seus valores aos do exterior. A transparência é abalada, a confiança na política de preços fica mais minada, e há espaço para novos reajustes, ainda que o dólar ou o petróleo baixem agora. Causa e efeito não têm relação imediata.
O fato é que, quando o consumidor ouve do governo um aceno em direção a valores mais brandos nas bombas, não faz a necessária distinção entre imposto e custo para compreender quem é responsável pelo quê. Associa os reajustes a dois pontos: a uma certa sensação de “traição” de quem fez a promessa, por mais que o presidente repita que não interfere na estatal, e à própria Petrobras.
O resultado desse desencontro é uma seta para baixo. Caíram tanto a aprovação do Executivo federal quanto as ações da empresa na Bolsa de Valores.
fonte: O Tempo