Por que o preço do etanol sobe quando a gasolina aumenta?
25/02/2021 - 08:28h
A Petrobras aumentou o preço médio que os distribuidores terão que pagar à refinaria para comprar gasolina e diesel – foi o quarto reajuste de 2021. Essa revisão de preços atinge o consumidor, já que o preço médio da gasolina aumenta na hora. Só que o etanol sobe junto, ainda que o combustível vegetal não tenha sido incluído na nova tabela da petroleira.
Esse fenômeno de aumento casado acontece invariavelmente e seu reflexo aparece nos postos de gasolina. Para entender o motivo disso, falamos com Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica), organização que representa os produtores de etanol a partir da cana de açúcar.
O primeiro motivo é de oferta e demanda. Como álcool pode substituir a gasolina nos carros flex, o consumidor pode ser levado a optar pela “alternativa”. Se a procura pelo etanol aumenta, seu valor sobe também.
“Se não há uma correção de preço, a demanda por etanol se elevaria muito por parte dos distribuidores, e com a oferta de matéria-prima mantendo-se a mesma, o preço seria elevado de toda forma em algum momento futuro”, diz Pádua.
O mercado de combustíveis tem cotação diária. Ou seja, o preço varia todos os dias, o que pode gerar impactos diretos nas bombas dos postos de forma praticamente instantânea. “O preço da gasolina está muito ligado ao câmbio e ao preço do petróleo. Se amanhã o preço do barril de petróleo caísse para US$ 40, e consequentemente o preço da gasolina diminuísse, o valor do etanol cairia também”, afirma.
Para quem está precisando abastecer o carro, parece injusto: quando o Jornal Nacional (ou a Autoesporte) anunciam um aumento, o dono do posto logo sobe os preços, ainda que seu reservatório esteja cheio (e adquirido no preço menor). Ora, se ele pagou menos, que venda por menos, certo?
Para o dono do posto, o problema é outro. Com o aumento, se ele vender o “estoque antigo” pelo preço antigo, não terá margem para repor o conteúdo dos tanques com o valor atualizado.
O caso inverso também não beneficia o consumidor. Quando a Petrobras reduz os preços, a vantagem dessa redução demora até aparecer na bomba – isso quando aparece. Deixando de lado razões especulativas, aqui vale uma lógica comercial.
Todo aquele combustível que está armazenado teoricamente foi adquirido pelo empresário por uma cotação mais alta. Assim, se ele repassar imediatamente esse “benefício” para o cliente, terá que absorver o custo adicional.
Outro fator que se leva em conta na hora de precificar o etanol são os períodos de safra e entressafra da cana de açúcar. De abril a novembro, momento do ano em que as plantações da matéria-prima estão produtivas, o etanol fica mais competitivo no mercado (preços mais baixos, favorecendo a movimentação comercial) e sua venda é maior por conta do aumento da oferta.
Já na entressafra, o mercado se regula. Cerca de metade da matéria-prima produzida e reservada da safra precisa dar conta do etanol vendido no período entre dezembro e março, uma vez que a produção será baixa. Assim, o combustível fica menos competitivo no mercado e isso culmina nos preços sendo elevados devido à diminuição de sua oferta.
No Brasil, a própria entressafra acaba provocando influência no preço da gasolina (que é feita com petróleo, não da cana). A gasolina vendida no país contem etanol em sua composição, cerca de 27%. Quando o álcool aumenta, a refinaria paga mais caro à indústria alcooleira. E transfere este custo para o consumidor. Ou seja, você.
Sobre o preço final que o consumidor paga nas bombas de combustíveis, Pádua ainda explica que existem outras variáveis que modificam esses valores. “O preço pode cair no produtor e subir na bomba, ou vice-versa, tudo depende também da política de margem de lucro das distribuidoras e da política de margem de revenda. O mercado de combustíveis é pautado por todas essas variáveis”.
Por fim, o diretor da Única relembra que os combustíveis, assim como diversos outros produtos, são afetados pelas mudanças no ICMS. “Mesmo que o preço do etanol caísse agora em março, como a referência de cobrança do ICMS é de fevereiro e o preço está alto, ainda sim a cobrança do imposto iria aumentar o preço final”.
fonte: Auto Esporte, escrita por Tiago Medeiros e Ulisses Cavalcante