Os preços recordes do açúcar na União Europeia, quase três vezes maiores que os níveis observados há um ano, após condições climáticas extremas e um aumento nos custos de energia, estão forçando os produtores a considerar cortes.

O valor elevado de um alimento básico amplamente utilizado é outro obstáculo para os formuladores de políticas da UE, que tentam controlar a inflação e conter a crise do custo de vida.

Negociantes de açúcar e especialistas do setor disseram que os preços à vista do açúcar branco refinado no continente estão sendo negociados em cerca de 1.050 euros (US$ 1.016,61) a tonelada – seu nível mais alto até agora.

Os preços no mercado mundial, por outro lado, estão em torno da metade desses níveis.

“Estamos em uma crise no mercado de açúcar”, disse Muriel Korter, diretora-geral da Caobisco, associação da indústria de confeitaria da UE, à Reuters.

“Tememos que nossas empresas e, especialmente, as muitas pequenas e médias possam enfrentar em breve a difícil escolha de interromper ou reduzir temporariamente a produção neste inverno”, acrescentou.

A produção de açúcar está entre as indústrias mais intensivas em energia e depende especialmente do gás na UE.

Os preços de referência do gás no bloco estão cerca de 700% mais altos do que os níveis vistos no início do ano passado, já que a Rússia restringiu fortemente a oferta este ano.

Moscou disse que as sanções do Ocidente, impostas após a invasão da Ucrânia pela Rússia, são as culpadas pelos altos preços da energia.

As duas maiores produtoras de açúcar da França, Tereos e Cristal Union, anteciparam o início de sua produção em 2022, antes de possíveis restrições de energia do governo neste inverno, caso a escassez de gás piore.

Enquanto isso, a alemã Suedzucker registrou um aumento de quase 80% nos lucros trimestrais, dizendo que deve ser capaz de repassar os custos na forma de preços mais altos do açúcar, embora seu desempenho dependa da disponibilidade de fornecimento de energia suficiente.

“Os preços do açúcar da UE estão em seu nível mais alto de todos os tempos. As fábricas de açúcar de beterraba na Europa funcionam com gás natural e olham onde estão os preços do gás”, disse o consultor Julian Price, que é ex-presidente da associação de comerciantes de açúcar da Europa, a ASSUC.

A associação da indústria de confeitaria da Alemanha, BDSI, disse à Reuters que a Alemanha, maior produtor de doces e salgadinhos da UE, corre o risco de perder sua competitividade mesmo em relação aos países europeus, sem falar nos internacionais.

A Alemanha sofreu especialmente com os cortes no fornecimento de gás russo.

A Comissão Europeia espera que a produção de açúcar caia 6,9% na temporada 2022/23 (outubro a setembro) para 15,5 milhões de toneladas após uma queda na área plantada e uma seca severa no verão, enquanto o consumo é visto bem acima desses níveis, em 16,6 milhões de toneladas.