Trigo: Em 2023, Brasil seguirá exportando mas importação tende a crescer
23/01/2023 - 15:23h
A recém-colhida safra recorde de trigo, estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 9,767 milhões de toneladas, deve levar o Brasil a manter exportações firmes neste ano, estimam analistas de mercado ouvidos pelo Broadcast Agro.
Ao mesmo tempo que as importações também tendem a crescer em meio à maior comercialização externa e aos problemas de qualidade do trigo paranaense. No ano passado, o País exportou 172% mais trigo que ano anterior, a 3,073 milhões de toneladas, e internalizou 8% menos, a 5,716 milhões de toneladas.
Para o gestor de Risco de Trigo na consultoria StoneX, Jonathan Pinheiro, além da maior safra local, a forte demanda internacional deve favorecer as vendas externas do trigo brasileiro. "Hoje, o trigo russo é o mais competitivo do mundo em preço, mas o consumo mundial é firme, o que deve manter o Brasil como alternativa de fornecimento", aponta.
Ele pondera, contudo, que haverá uma janela mais apertada para exportação da safra atual em relação à anterior, que foi beneficiada pelo maior espaço nos portos com a quebra da safra de soja.
"Na safra atual, não temos quebra de soja, o que abre cenário para exportação até meados de março. Para o ano comercial 2023, de outubro a março, estimamos exportação de 3 milhões de toneladas de trigo, considerando que o Rio Grande do Sul deve colher por volta de 6 milhões de toneladas e tende a exportar metade e mais 30 mil toneladas do Paraná", prevê Pinheiro.
Até o momento, segundo Pinheiro, o ritmo de embarques é semelhante ao visto na safra anterior, quando 2,9 milhões de toneladas foram vendidas para o exterior. "Os line-ups mostram que por volta de 1 milhão de toneladas foram exportadas. Desde dezembro, vimos que o mercado ficou mais lento, mas as vendas podem ser retomadas daqui para frente. Os problemas de qualidade da safra também prejudicaram um pouco as exportações de trigo de qualidade superior", comentou.
A consultoria Trigo & Farinhas estima que 2 milhões de toneladas de cereal da safra 2022 já tenham sido comercializadas para o exterior, sendo 1,700 milhão embarcadas e 310 mil toneladas nomeadas. "O mercado espera vender 3 milhões de toneladas para exportação, mas o nível de proteína do trigo, de 11,8% a 12% no Rio Grande do Sul, está aquém do desejado nos contratos internacionais, de 13%, em virtude da menor adubação nitrogenada. Em relação ao Paraná, os preços para exportação são considerados pouco atrativos pelos produtores", explicou o analista da T&F, Luiz Carlos Pacheco.
Na importação, mesmo com a maior disponibilidade do cereal nacional, os analistas vislumbram crescimento anual no volume internalizado em virtude da quebra na safra paranaense e dos prejuízos na qualidade do cereal nacional. A StoneX estima que o País busque no exterior entre 5 milhões e 6 milhões de toneladas na safra 2022, que vai até outubro deste ano, de 11 milhões de toneladas produzidas.
"Indústrias do Paraná tem buscado trigo gaúcho, mas ainda vão precisar importar maior volume também, assim como o Nordeste. Como, neste momento, com a quebra de safra, o trigo argentino é um dos mais caros do mundo, ele deixa de ser uma alternativa viável para outros países, se mantendo ainda atrativo para o Sudeste com maior proximidade logística", acrescentou.
Pacheco, da T&F, também cita o fato de que a menor qualidade e produção do cereal paranaense fará com que os moinhos de lá importem maior volume de cereal. "Estimamos que no ano civil sejam importadas 6,5 milhões de toneladas. Deve vir muito trigo russo. Há expectativa de chegada de 11 navios até julho, sendo que já chegaram cerca de 200 mil toneladas de lá. Neste momento, é um dos cereais mais atrativos, com preços indo de US$ 310 a US$ 315 por tonelada", pontuou (Broadcast, 20/1/23)